Em mais um capítulo da nossa série de entrevistas com mulheres que estão construindo caminhos incríveis na STEAM, temos o prazer de apresentar Ana Luísa Santos, criadora do perfil @astroluisasantos. Unindo tecnologia, autoconhecimento e astrologia, Ana Luísa traz uma abordagem única e inspiradora sobre carreira, propósito e protagonismo feminino no universo STEAM.
Nesta entrevista, ela compartilha sua trajetória, os desafios que superou e como encontrou na interseção entre ciência e uma forma potente de apoiar outras mulheres na área.
Vem conhecer essa história diferente e inspiradora com a Ana Luísa!
Como surgiu seu interesse em engenharia espacial e qual foi o momento que te fez decidir buscar missões análogas?
Desde muito nova, era apaixonada por Ciências e, especialmente, pela Física. Sempre quis entender como o mundo funciona. Quando descobri a engenharia, percebi que ela era a ferramenta perfeita para transformar curiosidade em impacto real. Ao escolher uma engenharia, busquei professores que me falaram do ITA, uma referência no Brasil de excelência, então pesquisei a fundo sobre e notei que me apaixonei pelo conceito espacial. Na faculdade, entrei para a equipe de foguetes e comecei a me envolver com projetos práticos. Precisávamos de um local para realizar nossos lançamentos e foi assim que conheci o Habitat Marte. Essa experiência me mostrou, de forma muito concreta, que a carreira de astronauta, até então um sonho distante, poderia ser trilhada aqui mesmo, com protagonismo brasileiro. Desde então, não parei mais.
Você é a mulher com mais missões análogas no Hemisfério Sul. Como é se preparar e passar por essas experiências tão intensas, tanto fisicamente quanto mentalmente?
É sempre um desafio e também um privilégio se compreender como um ser humano em isolamento, lidando com condições extremas que simulam o ambiente espacial. As missões exigem preparo físico, controle emocional e, sobretudo, autoconhecimento seja das suas habilidades como também das suas experiências. A cada nova missão, saio com mais clareza sobre meus limites e potencial. O maior aprendizado é que, mesmo longe da Terra, o maior território que exploramos é o nosso interior.
Conta pra gente sobre a “Missão Hydra” e o que você mais aprendeu durante essa vivência no Habitat Marte?
A Missão Hydra foi muito especial. Trabalhamos com protocolos de imersão e atividades como meditação e mergulho livre em apneia, que são ótimos exercícios para treinar a respiração e o foco exigidos em uma missão real, principalmente em casos de emergência. Foi uma vivência que me ensinou a importância de desacelerar a mente para enfrentar ambientes que exigem o máximo do nosso corpo e da nossa atenção. Além de ter sido uma missão que a tripulação foi bastante unida e tivemos desafios grandes técnicos que desenvolvemos soluções juntos rapidamente.
No seu perfil, você compartilha insights sobre uso de IA em suas atividades. De que forma essas ferramentas te auxiliam nas missões ou na sua formação?
A Inteligência Artificial se tornou uma aliada muito útil. A IA me ajuda a organizar ideias, revisar códigos, melhorar conteúdos, otimizar tarefas e até para brainstorms em projetos. Ela me permite transformar dados brutos em soluções inteligentes, algo vital em um campo tão técnico e multidisciplinar quanto o espacial. Enfim, me fez ter um alto desempenho maior que me possibilita desenvolver muitas habilidades ao mesmo tempo e isso para mim é bem importante.
Quais habilidades de programação ou tecnologia você considera cruciais para quem quer trabalhar com simulações espaciais ou engenharia aeroespacial?
Mais do que dominar uma linguagem específica, é essencial desenvolver pensamento lógico e análise crítica. Saber estruturar um problema, entender seus parâmetros e modelá-lo computacionalmente é o que diferencia um profissional técnico de apenas um solucionador de problemas.
Como você concilia sua rotina de estudos, missões, conteúdo e vida pessoal? Tem alguma metodologia de organização que recomenda?
Minha vida é organizada por eixos:
- Pessoal (saúde e lazer)
- Profissional (estudos, empreender, conteúdos e treinamentos)
Isso me ajuda a equilibrar e visualizar melhor onde estou dedicando energia. Não existe fórmula mágica, organização exige disciplina, mas também compaixão com os próprios limites.
Como participante ativa da comunidade Mars Generation e de projetos do INPE, que oportunidades existem para meninas interessadas em seguir esse caminho?
Existem muitas portas abertas, e eu sou prova disso. Fui cofundadora do projeto Geração de Marte e atuo em diversas iniciativas de formação e pesquisa. Algumas oportunidades que indico:
- Meninas no Espaço
- Geração de Marte (GM)
- Space Generation Advisory Council (SGAC)
- InSpace, LIASTRA, SPACE-INPE, CIAA-INPE
- Nicolinha Kids, Clube do Francesco, Medalhei
- Equipes universitárias de foguetes, CubeSats, robótica e drones
- AEB Escola
- Olimpíadas científicas!
São iniciativas que, além de formar, também inspiram.
Você já enfrentou desafios relacionados à representatividade de gênero nesse universo tão dominado por homens? Como lidou com isso?
Sim. Durante a graduação, enfrentei ambientes marcadamente machistas, de professores a colegas. No início, isso me abalou, mas percebi que a resposta mais assertiva para esse comportamento era o meu desempenho. Conquistei espaço com projetos bem-sucedidos e reconhecimento nacional e internacional. Hoje, uso minha trajetória para abrir caminho para outras não passarem o que eu passei.
Além das missões, você produz conteúdo educativo e motivacional. Qual mensagem quer deixar para adolescentes com sonhos ambiciosos como o seu?
Ambição sem paciência vira frustração. Sonhar alto exige preparo diário, estudo constante e autodesenvolvimento. Às vezes, o resultado pode demorar, mas cada passo conta. A mensagem é: não desista porque está difícil, persista com clareza dos seus objetivos para alcançar a sua meta.
Na verdade, tenho muita vontade de desenvolver algo assim! Acredito que, antes de mergulhar em códigos e ferramentas, é essencial apresentar referências reais, histórias inspiradoras e aplicações concretas da tecnologia espacial. A representatividade é um pilar fundamental: mostrar o que outras mulheres já conquistaram ajuda as meninas a se enxergarem nesse universo. Elas precisam entender, desde o início, que têm um potencial imenso — e que ele já pode ser colocado em prática ao explorar conceitos da área de forma acessível e envolvente. Para mim, a ordem é clara: primeiro vem o pertencimento, depois vem a técnica.
Qual mensagem você pode deixar para as meninas que fazem parte do projeto Programe como uma Garota?
Se em algum momento você se sentir sozinha, deslocada ou duvidar do seu lugar nesse caminho, lembre-se: muitas mulheres incríveis vieram antes de você e abriram espaço com coragem, criatividade e persistência. Cada linha de código que você escreve é parte de um legado poderoso e ele continua com você. Não deixe que o medo silencie essa trajetória. O futuro da tecnologia e do espaço também pertence a você. Siga firme. Você é necessária, até porque quem diz que já alcançou tudo que queria é porque talvez nunca tenha ousado sonhar em alcançar as estrelas.