No nosso blog, estamos dando continuidade à nossa série especial que abre espaço para conhecer histórias inspiradoras de mulheres que estão fazendo a diferença na tecnologia. Desta vez, convidamos Thamires Azevedo, criadora do perfil @qa.thami, para compartilhar um pouco da sua trajetória, seus desafios, aprendizados e como ela usa sua voz para mostrar que qualidade de software também é lugar de mulher.
Entrevistada: Thamires Azevedo
Formação: Engenheira de Qualidade de software
Atuação: Analista de qualidade de software
Vem conferir essa entrevista incrível e se inspirar com a Thami!
Como foi sua trajetória até chegar na área de QA?
Minha entrada em QA foi bem no estilo “cai de paraquedas (e o paraquedas não abriu). Em 2018, eu tinha acabado de começar na faculdade e percebia que desenvolvimento não era exatamente minha praia, apesar de estar cercada por códigos. Sempre fui muito curiosa, gostava de testar tudo, até as coisas mais bobas, e foi aí que QA começou a chamar minha atenção.
Na época, participei de um programa de formação gratuito em Recife, chamado START, voltado pra quem queria entrar na área de TI. Fui selecionada pra turma de COBOL (não escolhi, ok? rs), e no fim do curso, por ter me destacado no projeto, fui contratada pela Accenture como nível 13 (quase estagiária, o primeiro degrau da escada) Só, que não havia vagas pra desenvolvimento em COBOL, e acabei sendo alocada em testes.
Foi assim que tudo começou. Sem entender direito o que era QA, mas com uma curiosidade enorme e vontade de aprender. E o que era só uma alocação provisória acabou virando paixão. Hoje olho pra trás e vejo que, mesmo meio no susto, encontrei o lugar certo. QA virou a menina dos meus olhos.
Você criou o e‑book “Comece por aqui, QA!”, o que te motivou a escrever esse material e qual impacto deseja gerar nas pessoas que estão iniciando no QA?
A motivação veio da minha própria confusão quando comecei. Eram muitos conceitos, ferramentas, siglas… e pouca explicação clara sobre o que realmente importava no início. O e-book nasceu pra ser um GPS pra quem está perdido, mas quer muito começar com o pé direito. Meu objetivo é que qualquer pessoa que leia diga: “ok, agora sei por onde seguir”, acho que é algo até que coloquei no final dele, de um trecho de Piratas do Caribe, um dos filmes que adoro, “Precisa se perder para achar lugares que não se acham, se não todos saberiam onde fica.”
Como foi sua transição para Quality Assurance, especialmente chegando ao cargo de analista na Grafeno, após mais de quatro anos na área?
Apesar de já ter dois anos atuando como tester na minha experiência anterior, tudo ainda era muito básico. Na prática, a transição para QA de verdade aconteceu quando entrei na Grafeno como júnior, em 2021. Lá, precisei aprender de fato o que era ser uma analista de QA, com pensamento crítico, visão de produto, análise de risco e comunicação com diversas áreas. Foi como reaprender o meu papel, dessa vez com mais profundidade e propósito. A Grafeno foi o meu ponto de virada.
Você fala bastante sobre documentação, prototipagem e análise de requisitos, como essas práticas fortalecem a qualidade de software desde o início do projeto?
Essas práticas são meio que um tripé da prevenção de bugs (por mais que eu ame encontrar eles rsrs) Quando a documentação está clara, os requisitos bem definidos e há protótipos acessíveis, todo mundo fala a mesma língua: design, produto, desenvolvimento e QA. Isso evita retrabalho, reduz mal-entendidos e torna o processo de testes muito mais estratégico. Qualidade começa no briefing, não no bug.
Em um de seus reels você explicou “testes manuais: comportamento conforme a senioridade” quais comportamentos diferenciam um profissional sênior de um júnior?
A diferença está menos na ferramenta e mais na mentalidade. Um júnior tende a seguir o script, não que seja uma regra, mas algo que acabei observando, e também o caminho pelo qual fui. Um sênior questiona o script, entende o negócio, antecipa riscos e sugere melhorias. Enquanto um testa o que pediram, o outro testa o que ninguém pensou. A senioridade aparece na análise, na comunicação e na autonomia pra tomar decisões com base no contexto.
Você aborda ética em testes de software por que esse tema é tão importante e como aplicá-lo na prática do QA?
Sabemos que médicos salvam vidas e ninguém aqui está tentando competir com isso, mas o nosso trabalho também impacta vidas, e muito. Quando um sistema falha por falta de cuidado, quem sofre é o usuário. Pode ser alguém tentando pagar uma conta, agendar uma consulta, acessar um benefício. E aí entra a ética. Aplicar ética em QA é lembrar que por trás de cada teste, existe uma pessoa que vai usar aquilo. É levantar a mão quando algo parece errado, mesmo que “não esteja no escopo”. É questionar fluxos perigosos, reportar falhas que poderiam ser ignoradas e se recusar a “só clicar”. Testar com ética é testar com responsabilidade. E isso, sim, pode mudar a experiência ou até a vida de alguém.
Você apresentou no TDC Recife sobre IA redefinindo testes de software, como a inteligência artificial está moldando sua rotina de QA e a forma de treinar equipes?
Eu botei sempre algo na cabeça desde que teve esse “BUM” das IAs, ela não é nossa inimiga, e também não veio roubar o emprego de ninguém. Ela tá aí pra mudar a forma como a gente trabalha, não pra substituir o QA. E quando vou treinar alguém, reforço muito isso: a IA pode até te ajudar a fazer mais rápido, mas ela não pensa por você. QA ainda precisa ter visão crítica, entender o produto, saber quando levantar a mão. No fim das contas, a IA é tipo um estagiário super eficiente, mas quem precisa saber o que faz sentido ou não, ainda somos nós.
Como QA pode apoiar equipes de desenvolvimento, de modo a fortalecer colaboração e entrega ágil?
QA bem inserido no time atua como facilitador: ajuda a refinar histórias, valida critérios de aceite, constrói cenários de testes em conjunto. Isso evita retrabalho e acelera entregas. QA não deve ser o boss final igual nos jogos, mas sim o co-piloto durante toda a jornada de desenvolvimento. Quando todo mundo pensa em qualidade desde o início, a entrega é mais rápida e robusta.
Você produz conteúdo educativo desde 2021, como é planejar conteúdos técnicos que sejam acessíveis, envolventes e didáticos para quem está começando?
É um equilíbrio entre simplificar sem infantilizar. Eu sempre parto da pergunta: “o que eu gostaria que tivessem me explicado quando comecei?”. A partir daí, penso em analogias, exemplos reais e linguagem acessível. O objetivo é que a pessoa termine de ler ou assistir e diga: “agora faz sentido!”.
Que dicas você dá para garotas que querem entrar em testes de software, mas se sentem intimidadas por ferramentas técnicas ou falta de referências femininas?
Primeiro: você não está sozinha.
Segundo: ninguém nasceu sabendo automatizar testes ou escrever casos perfeitos. Comece pequena, mas comece. Busque comunidades, leia conteúdos feitos por outras mulheres e saiba que seu olhar é necessário na área. Ferramenta se aprende. O que não dá pra ensinar é a coragem de estar onde não esperam que você esteja e isso você já tem, lá vem eu com outra frase que falo pra mim mesma quase todo dia “trabalho duro vence dom natural”
Além da técnica, quais características pessoais você percebe como essenciais para uma carreira sólida em QA (como resiliência, curiosidade, comunicação)?
Curiosidade é a chave do sucesso (mas calma que não é tudo) quem testa precisa querer saber o que acontece “se”. Comunicação também, porque QA precisa traduzir problemas técnicos pra quem não é da área. E, claro, resiliência: você vai encontrar resistência, bugs sem lógica, e vai ouvir que “é só testar” e muitas vezes, arrumar algumas brigas com alguns devs também (se algum dev meu ler isso, quero dizer aqui em público que amo vocês e vocês são os(as) melhores devs que um QA poderia ter, eu sei, é clichê mas voltando …). Quem aguenta o tranco, vira referência (mas cuidem da saúde mental de vocês também)
Qual mensagem você pode deixar para as meninas que fazem parte do projeto Programe como uma Garota?
Se te disseram que tecnologia não é lugar de mulher, erraram de século. O mercado precisa de mais vozes femininas, mais visões diversas e mais coragem como a sua. Não espere se sentir pronta pra começar, você vai aprender no caminho. E o mais importante: você não precisa se moldar ao mercado, o mercado precisa se moldar pra te receber.